Na noite de 6 de maio, por volta das 23h, uma enfermeira foi covardemente agredida por uma acompanhante de paciente na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Jales, interior de São Paulo. O episódio escancara o descontrole da violência contra profissionais da saúde e a falência de um sistema que adoece justamente quem cuida dos outros.
De acordo com os relatos, a mulher se revoltou com a demora no processo de transferência via CROSS (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde) — que, vale lembrar, não depende da UPA, mas sim da regulação estadual e da existência de leitos disponíveis. Em surto, invadiu o posto de enfermagem, gritando e ofendendo médicos e enfermeiros.
A situação saiu do controle. A agressora chutou a bandeja de uma técnica de enfermagem no momento em que ela preparava a medicação de um paciente, comprometendo o atendimento. Em seguida, partiu para a violência física: agarrou a enfermeira pelo pescoço e a jogou contra o próprio paciente que acompanhava. A vítima ficou com marcas visíveis no pescoço — um sinal claro da brutalidade do ataque.
“Não dá mais. Até quando vamos precisar aguentar esse tipo de coisa? Estamos no limite”, desabafou a enfermeira, resumindo o sentimento geral de uma categoria que vem sendo deixada à própria sorte.
Este não é um caso isolado. A agressão sofrida em Jales é apenas mais um episódio de uma série de abusos que se tornaram rotina para os profissionais da saúde. Enfermeiros e técnicos relatam exaustão física e emocional, agravada por jornadas pesadas, falta de estrutura e uma crescente onda de desrespeito e violência.
Na ponta do sistema, as UPAs lidam com a insatisfação da população, com o acúmulo de pacientes e com a falta de recursos. Mas não têm controle sobre leitos, transferências ou a lentidão do sistema de regulação. Mesmo assim, acabam sendo os alvos da revolta.
“A enfermagem não é culpada pela falta de vagas. Não controla o sistema. E, principalmente, não é saco de pancadas”, afirma o comunicado que denunciou o caso.
A agressão em Jales é um símbolo da precarização da saúde pública no Brasil — e um alerta. A categoria pede, com urgência, que os agressores sejam responsabilizados, que haja mais segurança nas unidades e que as autoridades finalmente se posicionem. Porque o que está em jogo é a vida e a saúde de quem cuida da população.