O caso do paulista Geraldo Vaz Junior, de 58 anos, chama atenção da medicina. Em março de 2023, ele recebeu um fígado transplantado que apresentava células cancerígenas — uma ocorrência extremamente rara, com incidência inferior a 0,03%, segundo a médica legista e perita Caroline Daitx.
Meses após a cirurgia, Geraldo descobriu que o novo órgão estava acometido por um adenocarcinoma, tipo de tumor maligno. Mais recentemente, exames detectaram metástase no pulmão, também originada do câncer presente no fígado transplantado.
A médica Caroline Daitx, que analisou os exames do paciente, afirmou que, apesar da raridade, esse é um risco inerente ao transplante.
“Deve ser balanceado contra o risco de morte na lista de espera. O paciente precisa estar plenamente ciente desses riscos antes do procedimento. O consentimento informado deve incluir a possibilidade, ainda que remota, de transmissão de doenças do doador, incluindo malignidades ocultas”, destacou.
O oncologista e professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Paulo Hoff, também classificou o episódio como excepcional, mas admitiu que “fatalidades” podem acontecer.
Segundo ele, mesmo com uma triagem rigorosa dos órgãos — que envolve análise do histórico médico do doador, exames laboratoriais e macroscópicos — tumores microscópicos ou micrometástases podem passar despercebidos.
“Se foi feito o teste e comprovado que o tumor veio do doador, não há dúvida. Esse câncer veio junto com o fígado. O doador certamente teve câncer em algum momento da vida, e ao ser feita a remoção do órgão, células cancerosas ainda estavam presentes”, explicou Hoff.
O caso de Geraldo reforça a necessidade de transparência total no processo de transplante e o cuidado redobrado na avaliação dos órgãos doados, ainda que a medicina reconheça que certos riscos são inevitáveis.